quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Drops

Em tempos de crise econômica internacional e do Fórum Social Mundial,
é interessante refletir sobre o que seria mesmo essa crise:

O que é mesmo uma crise capitalista?

Desde logo, vejamos o que não é uma crise capitalista:

Haver 950 milhões de famintos em todo o mundo não é uma crise capitalista.

Haver 4,75 bilhões de pobres no mundo não é uma crise capitalista.

Haver 1 bilhão de desempregados espalhados por todo o mundo não é uma
crise capitalista.

Haver mais de 50% da população mundial no subemprego ou que trabalhe
em condições precárias não é uma crise capitalista.

Haver 45% da população mundial sem a acesso direto à água potável não
é uma crise capitalista.

Haver 3 bilhões de pessoas sem saneamento básico não é uma crise capitalista.

Haver 113 milhões de crianças sem acesso à educação e 875 milhões de
adultos analfabetos não é uma crise capitalista.

Morrerem 12 milhões de crianças todos os anos por doenças que são
perfeitamente curáveis não é uma crise capitalista.

Morrerem 13 milhões de pessoas a cada ano por causa da deterioração
dos ambientes naturais e por mudanças climáticas não é uma crise
capitalista.

Haver 16.306 espécies em vias de extinção, das quais 25% são mamíferos
não é uma crise capitalista.

Tudo isto, como se sabe, já havia antes, e não gerou nenhuma crise capitalista.

Pode ser tudo, mas não é, segundo os economistas de mercado e
"especialistas" na matéria, uma crise capitalista.

O que é, então, uma crise capitalista? Ou, dito por outras palavras,
quando é que começa a sentir-se uma crise capitalista?

A crise capitalista aparece quando os lucros esperados, e que são o
fim e a razão de ser das empresas capitalistas, não são alcançados. Aí
sim, quando os lucros já não são tão elevados como se esperava,
fala-se então de uma crise capitalista.

Ou seja, a crise capitalista surge quando os fatos associados aos
indicadores sócio-econômicos acima referidos sobre a fome, a pobreza,
o desemprego, a precariedade, a escassez de água potável e de apoio
sanitário, mostram que não são suficientemente maus e negativos para
garantir a rentabilidade dos investimentos e do capital dos poderosos
grupos e empresas multinacionais, pelo que a manutenção da
rentabilidade desses conglomerados empresariais exigirá ainda uma
maior degradação das condições sociais de vida das populações como
meio para garantir as tão almejadas taxas de lucro das grandes
empresas mundiais, que são quem verdadeiramente dominam o mundo,
segundo a lei que as governa, isto é, a maximização do lucro e a
capitalização dos ganhos.

Curiosamente, dizem os "donos" deste mundo que quem não pensa em
função da maximização dos lucros e da acumulação do capital, esses são
pessoas sonhadoras, irresponsáveis, líricas, idealistas, subversivos…

Mas, afinal, quem se mostra verdadeiramente fanatizado pelo
fundamentalismo do lucro e do capital, longe das realidades e das
necessidades das populações, quem tem sido responsável pelo
crescimento insustentável e desigualitário, quem se revela
completamente viciado na roleta desta economia de cassino como é o
capitalismo, são essas figuras pardas, cínicas e sombrias que nos
governam, exploram e oprimem.

Pescado no lusitano blog "Pimenta Negra".

2 comentários:

  1. texto fantástico, real e super acolhedor para mim. palavras como essas nos dão força pra continuar de cabeça erguida no que a gente acredita e sente!

    sem perder a ternura jamais..

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  2. Todos aqueles tópicos que terminam com "não é uma crise capitalista" são conseqüências do modo consumista e produtivista de viver implantado pelo sistema capitalista. Também o comunismo que conhecemos tende a ser da mesma forma, pela necessidade de "competir" com o capitalismo. Fernando Huanaconi (Bolívia) fala em comunitarismo, modo de vida integrado e, por conseqüência, respeitoso com a Pachamama, a Mãe Terra, o Sistema Vivo.

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